sábado, março 26, 2005

Um entardecer...


... por dentro do Sonho.

sexta-feira, março 25, 2005

Um deus de encomenda

É urgente
arranjem-me um deus
não um deus qualquer
que eu sou exigente
um deus nascido de fêmea-mulher
e que não tenha igreja
nem more num altar
um deus que fique onde eu o veja
um deus com quem possa falar
não precisa refulgir de luz
não é pra pendurar
nem pregar na cruz
(...)
eu quero um deus que vá à luta
que sofra
que transpire por um salário
que comigo beba um copo ao sol poente
que me ajude a nadar contra a corrente
e quando eu estiver próximo do fim
nessa névoa doce junto ao mar
que tenha sido o deus em que eu soube acreditar
sabendo que ele
sempre acreditou em mim

arranjem-me um deus!
é urgente

J. M. Restivo Braz

segunda-feira, março 21, 2005

Amar é a única inocência...


(...)
Creio no mundo como um malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia, tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

quarta-feira, março 16, 2005

A História do Beija-Flor

... Era uma vez uma floresta num lugar longínquo, onde o Homem ainda não tinha chegado. Nessa floresta viviam muitos animais de diferentes espécies, tamanhos, cores e feitios. Era ainda o tempo em que os animais falavam.
Certo dia, houve um incêndio, um grande incêndio, como nunca antes havia sido visto. Perante a tragédia, o pânico instalou-se. Os animais fugiam num alvoroço, cada um procurando, da melhor forma possível, fugir às chamas, ao fumo sufocante e ao intenso calor que se fazia sentir, só pensando em colocar-se a salvo o quanto antes.
Mas... naquele cenário caótico, de desespero e medo colectivos, um pequeno animal teve um comportamento diferente. Na sua fragilidade, na sua singela figura, um beija-flor voava até ao lago e, com o seu pequenino e aguçado bico, recolhia, uma a uma, lenta mas persistentemente , gotinhas de água atrás de gotinhas de água, que ia depois deixando cair sobre o incêndio que lavrava cada vez mais descontrolado.
Um outro animal, observando intrigado o comportamento do pequeno beija-flor, interrompeu a sua fuga e perguntou:
- Beija-flor, mas tu estás louco? Porque te arriscas assim? Tu achas verdadeiramente que vais conseguir apagar o incêndio dessa forma?
O Beija-flor respondeu então:
- Não... claro que não, eu sei que o meu pequeno esforço não será suficiente para apagar este incêndio tão grande mas... eu estou apenas...
a cumprir a minha parte!

Esta história, a história do beija-flor... é seguramente uma história que nos fará reflectir a todos e, quem sabe, ajudar-nos a perspectivar de outro modo as nossas vidas. E deixo-a aqui com uma dedicatória muito muito especial, para alguém que adoro e que para sempre estará no meu coração. Esta história é para ti minha querida. Sim, para ti... xokito! :o)
Beijos com muito carinho e ternura.

segunda-feira, março 14, 2005

A Mulher...


De uma beleza inigualável, esteticamente perfeita...
haverá algo de mais profundamente extraordinário,
de mais intrigante, de mais fascinante e sublime que a Mulher?
E que dizer do seu lado complexo e contraditório?
Nunca nada nos deixou tão longe da verdade... a Mulher,
esse ser único e insondável e mesmo assim...
verdadeiramente insubstituível!

domingo, março 13, 2005


Sintra... onde o passado está tão presente...

Pedro, lembrando Inês...

Em que pensar, agora, senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite.
É verdade que te podia dizer
“Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem,
sermos o que sempre fomos,
mudarmos apenas dentro de nós próprios?”

Mas ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide.
Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo,
ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios,
mesmo ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo,
para ganhar o tempo que o tempo nos rouba.
Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar:
com a surpresa dos teus cabelos,
e o teu rosto de água fresca que eu bebo,
com esta sede que não passa.
Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
como gostas de mim,
até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice
In-Pedro Lembrando Inês

sexta-feira, março 11, 2005

O que importa é viver...



Temos medo de quê? De nos perdermos? De naufragarmos? Não adianta... Porque a vida é mesmo isso... Sonhar e despertar. Ganhar e perder.

Seremos apenas "instrumentos"?

Às vezes tenho ideias, felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despegam...
Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto?
Isto é melhor do que eu...
Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

segunda-feira, março 07, 2005


Menino Problema - uma foto possível para ilustrar o poema abaixo...

Um poema...

Hoje pediram-me para dizer este poema numa Acção de Formação, para professores, sobre "Gestão das Emoções na Aprendizagem"
Aqui fica com a devida vénia...

E vale a pena ler...

E reflectirmos...

MENINO PROBLEMA

Tu vens ao meu encontro
Com olhos de dúvida e de espanto
E gestos marcados pela amargura
Tu que és um filho do desamor
O fruto do desinvestimento
Da ausência total de ternura
Vives em rebeldia e tormento.

Tu
Arrancado à inocência
Moldado na dor e na violência
Que tiveste mãe que não soube sê-lo
E pai ausente que é como não tê-lo
Tu que, morto de toda a esperança,
Fazes da rua o teu lar de criança
E da solidão a família que não tiveste
Foges!
Foges sem destino e para o teu destino
De menino...
Menino-sofrimento, menino agreste
Menino-revolta
Menino-problema, menino à solta
Menino-triste!
Até que um dia vens
Com olhos cor da noite
Sem saberes, ainda, que o verde existe.
E eu, que não sou juiz para te julgar
Nem polícia para te prender
Sou médica, tenho que te entender
Para te encontrar!
E sinto...
Sinto por ti e contigo,
Com afecto solidário e amigo
A agressão, a revolta, a tristeza, o problema.

E falo...
Falo a língua possível- oh contradição-
Das pessoas felizes para as que o não são.

E busco...
Busco porquês e ausências
Relaciono consequências.

Quanto te vejo partir
Com tudo o que sobre ti se abateu
E fico na solidão do decidir
Sobre o rumo a dar à tua vida
Pergunto-me, comovida,
Quem sou eu?

Ofélia Bomba, médica psiquiatra, do livro "A Porta De Reixa"

sábado, março 05, 2005

Pensamento

"Poucos aceitam o fardo da própria vitória; a maioria desiste dos sonhos quando eles se tornam possíveis." Paulo Coelho, O Diário de Um Mago