segunda-feira, abril 18, 2005

Para atravessar contigo o deserto do mundo



Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

Sophia de Mello Breyner Andresen

Poema



Podemos falar dos sentimentos,
descrever as impressões que nos ameaçam,
e revelar o vazio que se descobre
na ausência um do outro:
nada, porém, é tão inquietante como a dúvida,
o não saber de ti, ouvir o desânimo na tua voz,
agora que a tarde começa a descer e, com ela,
todas as sombras da alma.
É verdade que o amor não é apenas
um registo de memórias.
É no presente que temos de o encontrar:
aí, onde a tua imagem se tornou
mais real do que tu própria,
mesmo que nada te substitua.
Então, é porque as palavras são supérfluas;
mas como viver sem elas?
Como encontrar outra forma de te dizer
que o amor é esta coisa tão estranha,
dar o que nunca se poderá ter,
e ter o que está condenado a perder-se?
A não ser que guardemos dentro de nós,
num canto de um e outro
a que só nós chegamos,
sabendo que esse pouco que nos pertence
é tudo o que cabe neste sentimento.

Nuno Júdice

terça-feira, abril 12, 2005

Ser Poeta

Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.

Alberto Caeiro

quinta-feira, abril 07, 2005

Viagem



Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.

Miguel Torga

Cântico de Amor

Ama quem amas, como o vento
Ama as folhas de olmo
(Amor que lhes transmite movimento
E alegria.)
Asa que possa andar no firmamento,
Só caminha no chão por cobardia.

Miguel Torga

quarta-feira, abril 06, 2005

Pegadas...



Vemos na foto as pegadas. Apenas as pegadas. Mas os animais passaram por lá! Será que ainda vivem? Ou já terão, alguns deles, sido abatidos para que as suas peles venham a ser usadas na indústria da moda (a portuguesa Fátima Lopes é uma das clientes) e depois indecorosamente ostentadas por outros animais, ditos racionais?

Nestas ou noutras neves, estes ou outros animais são diariamente massacrados de forma criminosa, deplorável e ultrajante. Não podemos ficar indiferentes. E por isso decidi juntar as “Margens do Sonho” à iniciativa desenvolvida pela Associação Portuguesa Animal, melhor explicada no blog Voz Oblíqua.

(http://vozobliqua.blogspot.com).

Junta o teu blog a esta iniciativa!
Há que lutar contra esta situação!

Página do diário de um aluno

Reprovei. “És um malandro!” – disse o meu Pai. “Não dás para os estudos” – disse a minha Mãe. E eu não sou malandro, nem burro! Ou serei? Realmente eu não estudo muito e não entendo lá muito bem certas coisas que os professores dizem. Mas o meu pai até gosta que eu vá para o campo com ele. Ainda ontem carreguei sacos para o tractor durante toda a manhã. Começamos ainda o sol mal tinha nascido e só parámos quando ao meio-dia a Mãe nos chamou para o caldo. E trabalhei de boa vontade. O meu pai disse que eu ajudava mais do que um homem... Então serei malandro? A verdade é que gosto mais de trabalhar no campo do que estar na escola. Não vejo para que servem muitas das coisas que lá se estudam. E depois... os professores não ajudam! No princípio eu julgava que ia conseguir e até ia com vontade. Mas comecei logo a desanimar. Foi lá uma senhora à sala e disse que aquilo ia ser difícil, que muita gente ia reprovar. Só quem trabalhasse muito e tivesse boa cabeça é que conseguia. E ela tinha razão. Comecei a não entender as coisas – os professores falam de uma maneira tão difícil! Eu tinha vergonha de perguntar, porque me parecia que só eu é que não entendia. E para além disso, alguns colegas faziam tudo tão depressa! Mas eu, e muitos da minha turma, mal tínhamos começado e já os professores estavam a querer tudo feito. E é aos que fazem bem os trabalhos que os professores ligam mais. Gostam mais deles e é natural. São mais inteligentes, trazem sempre os trabalhos feitos como os professores querem. Estão sempre prontos a responder, levam todo o material que eles pedem. Mas escusavam de nos desencorajar tanto, a nós que não temos tanta cabeça. Falam do que fazemos e de sermos vagarosos, de um modo tão zangado!
Na Páscoa tivemos uma aula de Ciências em que viemos apanhar bichos e os levámos para a sala. Eu lembrei-me de construir umas gaiolas para os grilos e umas caixas para as sardaniscas e as cobras de água que apanhámos. Depois até contei sobre esses bichos algumas coisas que eu tenho visto e eu sei. Trabalhei com vontade dessa vez. Se fosse sempre assim! O professor até disse “para a brincadeira estás sempre pronto...”
Acabou-se. Agora já não há remédio. Certamente para o ano já não posso voltar para a escola. Mas também não sei se me apeteceria. De alguns colegas gosto. Gosto dos recreios, gosto de vir com eles para a rua. E gostava de gostar da escola e dos professores. Mas nunca tive nenhum que gostasse de mim. Porque será?

Começou agora mais um período lectivo. Este post é para mim! E para todos os que têm responsabilidades na área da educação ou por ela se interessam.
Para que nunca nos esqueçamos do mais importante:
Eles! E sobretudo, estes eles!

domingo, abril 03, 2005

Inês... minha querida, minha "estrelinha do mar".


A animação é geral. Os primos vieram passar o fim de semana, a brincadeira é constante, os filhotes estão eufóricos.

E nisto... há poucos momentos... a minha pequenita Inês, a minha "estrelinha do mar", como sempre lhe chamei (nome que vem daqueles momentos mágicos, de partilhar as histórias de sonhar... antes de dormir), entra de mansinho no escritório, onde eu arrumava burocracias, os papéis que ninguém lê, e diz-me com a sua voz doce, de menina feliz:

- Pai, dá-me aquele dicionário de Português!
- Para quê, filhota?
- Quero ir aprender mais palavras difíceis e escrevê-las no meu caderno.

O meu coração, a sorrir, pegou no dicionário, que estava na prateleira mais alta da estante, e entregou-lho com um beijo terno.

E ela ali está, feliz... tranquila... nos seus lindos oito anos, a aprender palavras difíceis. Acho que a última que encontrou foi... abacaxi.

O Pedro está lá em cima, com os primos, a jogar PS2. E faz muito bem. Está de férias, é um excelente aluno e um bom menino.

E eu... não resisti. Precisava de partilhar este momento. E tenho nos olhos a ternura molhada que invade um pai... a olhar, em desvelo, para uma parte de si...

Obrigado meu amor, minha "estrelinha do mar".

sábado, abril 02, 2005

Pensamento

"É aceitável que uma criança tenha medo do escuro,
tragédia humana é quando não queremos ver a Luz." Platão

Um Retrato...


Sim... um retrato. Mas de quê?
O que vos sugere?
Que emoções vos desperta?
Deixo o desafio à vossa criatividade e sensibilidade...

A Catedral...

Certo dia um aprendiz passou por três homens que estavam a trabalhar no mesmo ofício. Virou-se para o primeiro e perguntou:
- O que fazes?
- Assento tijolos– respondeu-lhe este com um ar infeliz.

Passou pelo segundo e fez a mesma pergunta ao que este respondeu com um ar conformado:
- Levanto uma parede.

Quando se dirigiu para o último parou, por instantes, para admirar a sua profunda alegria.
- Que estás a fazer que te dá tanta satisfação?
- Construo uma catedral!

De facto, todos vivemos sob o mesmo Céu...

mas cada um tem o seu horizonte!

A forma como “assentas os tijolos” e como “levantas as paredes” da tua catedral (http://allinthemoods.blogspot.com/) deixam perceber um horizonte magnífico.

Obrigado mood, pela partilha.

Um grande beijinho.

P.S. Não deixes de ler as minhas palavras no “deus de encomenda”.

sexta-feira, abril 01, 2005

Eu trouxe comigo o mar...

A INFÂNCIA

"As crianças brincam na praia dos seus pensamentos
e banham-se no mar dos seus longos sonhos

A praia e o mar dos pensamentos não têm fronteiras

E por isso todas as praias são iluminadas
E todos os mares têm manchas verdes

Mas muitas vezes as crianças crescem
Sem voltar à praia e sem voltar ao mar.."

Fernando Sylvan, "A Voz Fagueira de Oan Timor"